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Pesquisa mostra relação de El Ni?o e La Ni?a com o clima no Paraná
Quinta-feira, 04 de outubro de 2012
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A extensão dos estragos causados por adversidades climáticas decorrentes do El Ni�o e da La Ni�a tem relação direta com a duração desses fenômenos, e não apenas com sua ocorrência. Esta e outras conclusões fazem parte de estudos feitos pelas pesquisadoras Heverly Morais, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), e Ângela Beatriz Costa, do Simepar.
O objetivo das pesquisadoras foi analisar a influência desses fenômenos sobre as chuvas nas regiões Norte, Sul e Oeste do Paraná e correlacionar o volume de precipitação com a duração dos dois fenômenos. O trabalho oferece dados que podem subsidiar ações preventivas e a implantação de políticas públicas para reduzir as consequências de excesso ou escassez de chuvas e efeitos de geadas. Com isso, contribui para o emprego racional e planejado de medidas nos setores públicos privados. O documento, inédito, foi apresentado em um congresso científico internacional de meteorologia realizado semana passada em Gramado (RS).
No estudo �Relação entre a duração do fenômeno ENOS (El Ni�o Oscilação Sul) e a Precipitação no Estado do Paraná�, Heverly agrupou dados de chuvas em Londrina (Norte), Palmas (Sul) e Cascavel (Oeste) de acordo com a duração de cada situação climática (El Ni�o, La Ni�a e Neutralidade) e calculou seus desvios com base na precipitação média histórica do mesmo período. A análise mostrou predomínio de chuvas superiores à média histórica em ocasiões de El Ni�o e inferiores à média histórica em fases de La Ni�a.
A novidade é que somente o fato de o clima estar sob influência do El Ni�o e La Ni�a não indica maiores e menores volumes de chuvas, respectivamente. O estudo mostrou que a extensão desses eventos influencia no regime de precipitação. Assim, por exemplo, quando o clima está sob influência de um El Ni�o que perdura por um longo tempo, a probabilidade de ocorrer chuvas acima da normal é maior. No caso da La Ni�a, se o evento for extenso, há maior possibilidade de ocorrer volumes de chuvas abaixo da média histórica. Assim, essa duração dos eventos explica a variabilidade observada nos impactos de El Ni�o e La Ni�a no Estado.
IMPORTÂNCIA - Esse trabalho é importante porque auxiliará nas previsões meteorológicas e climáticas que são ferramentas importantes para tomadas de decisões e planejamento de agricultores e técnicos, desde a escolha da cultura até a definição do melhor momento para controle de pragas e doenças, colheita, transporte e armazenamento.
Segundo Heverly, a previsão de chuvas no Paraná é uma tarefa complicada devido ao posicionamento geográfico do Estadp, numa área de transição climática, e pela grande dependência das condições regionais, influência da circulação atmosférica, dinâmica das frentes frias que se deslocam do extremo sul do planeta e situação de outros eventos como a Zona de Convergência do Atlântico Sul.
Em �Geadas severas na cafeicultura paranaense e sua relação com o fenômeno ENOS�, Ângela Costa lembra que as geadas exercem forte influência na agricultura e na economia do Paraná. Foram decisivas no rumo da cafeicultura, na política de preços internacionais e na industrialização de grandes cidades.
Nos estudos, foram consideradas somente as geadas que causaram prejuízos severos a partir de 1955. Assim, os seguintes episódios foram identificados, com base nos dados de temperaturas mínimas e registros de danos à produção no Norte do Paraná: 2 de agosto de 1955, 10 de julho de 1969, 9 de julho de 1974, 18 de julho de 1975, 20 de julho de 1981, 26 de junho de 1994, 13 e 17 de julho de 2000.
Para cada geada dessas foram analisadas as condições meteorológicas antes e durante a sua ocorrência e a situação em relação ao fenômeno ENOS. Ângela deu ênfase à duração (em meses) do fenômeno antes da ocorrência da geada, partindo da hipótese de que os oceanos respondem mais lentamente a mudanças e, assim, a maior permanência na condição de El Ni�o ou La Ni�a poderia ocasionar temperaturas mais elevadas ou mais amenas durante o inverno, reduzindo as chances de geadas fortes ou agravando o problema.
Através de tabelas, a pesquisa mostra as durações em meses das fases quente (El Ni�o), neutra e fria (La Ni�a) do fenômeno ENOS, antes do mês em que ocorreu cada uma das geadas que mais causaram danos à cafeicultura desde 1955.
O estudo observa que as geadas de 1955, 1975 e 2000 ocorreram sob La Ni�a. O fenômeno manifestou-se, respectivamente, durante 14, 26 e 24 meses consecutivos antes do mês de cada geada. Somente no caso da geada de 1969 houve uma situação de El Ni�o, que se estendeu por um período de 11 meses antes da geada severa daquele ano. Na geada ocorrida em 1972 a condição era de El Ni�o no seu início, após um período prolongado de La Ni�a e uma curta transição de neutralidade.
Houve mais duas geadas na condição de neutralidade, em 1981 e 1994. Considerando que as geadas são fenômenos extremos, dependentes das condições atmosféricas durante o deslocamento das massas de ar frio, não se espera um comportamento padrão nas ocorrências desses episódios. Mas fica evidente nos eventos passados a influência de longos períodos sob La Ni�a antes da ocorrência das geadas consideradas �severíssimas� e �severas�, prevalecendo em quatro dos sete episódios.