Segunda-feira, 20 de junho de 2011
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Mais de 15 mil livros já foram restaurados por presos da Penitenciária Estadual de Maringá, por meio de uma parceria com a Universidade Estadual (UEM). A oficina de recuperação de livros, que funciona na própria penitenciária, completa em julho 10 anos de atividades ininterruptas. Nela são restaurados entre 1500 e 2000 livros por ano, por uma equipe de 20 presos que trabalham de segunda a sexta-feira, oito horas por dia. Os presos que estudam são autorizados a exercer a atividade por meio período.
As obras recuperadas fazem parte do acervo da própria universidade e são principalmente livros da bibliografia básica, que sofrem desgastes pelo excesso de uso e pelo mau uso. “As pessoas não tomam o devido cuidado quando usam esses materiais. E aí cabe à universidade o trabalho de recuperá-los”, afirma a bibliotecária da UEM Ana Maria Marquezini Alvarenga, que iniciou o projeto em julho de 2001. Ela conta que de lá para cá o número de alunos e cursos aumentou. “Não teríamos condições de recuperar e recolocar esse acervo à disposição do público se não fosse com o apoio desses detentos”, afirma.
Para participar do projeto, o preso precisa manifestar interesse e passar por uma avaliação feita pelo corpo técnico do sistema penal, formado por psicólogos e outros profissionais.
Uma vez aprovado por essa equipe técnica, o preso começa a fazer o curso de restauração de livros, ministrado por técnicos da UEM. Em seguida inicia o trabalho, monitorado internamente por um detento, escolhido como “mestre de materiais”. Profissionais da UEM coordenam, orientam e avaliam o trabalho. “Quando vem um livro com falhas, a gente retorna com a obra para uma conversa com o responsável, como parte do processo de avaliação e formação profissional”, explica Iza Maria Cavalcanti Brito, bibliotecária responsável pelo projeto na UEM.
BENEFÍCIOS – Os benefícios da atividade podem ser percebidos nos campos da promoção humana e da ressocialização do preso. O aumento da autoestima e o interesse pelos estudos são consequências diretas.
“O primeiro retorno que temos é no comportamento do preso internamente. Procuramos estimulá-los a trabalhar, no sentido de ocupar o seu tempo e também de instruí-los em um ofício, mas também propor o encaminhamento dele para a escola. E num segundo momento, podemos ver que ele consegue ter uma inserção melhor devido a esses outros fatores envolvidos no processo” avalia o diretor da penitenciária, Luciano Marcelo Simões de Brito.
Segundo ele, os presos que participam dos canteiros de trabalho passam por uma comissão técnica de classificação que envolve profissionais de segurança, educação, setor de laborterapia, assistência social, psicologia, saúde e psiquiatria
OFICINA – O material utilizado na recuperação – bisturi, estilete, régua e cola – é fornecido pela UEM. “Tem livros muito difíceis de recuperar e os presos são preparados para isso. Há livros que são bem frágeis e têm de ser restaurados folha por folha. Eles fazem isso com muita dedicação e capricho”, afirma Iza Maria. Ela classifica a penitenciária como um modelo, por ser bem organizada e não ter superlotação, e elogia o grupo que trabalha no projeto: “São asseados e empenhados e dá gosto trabalhar com eles. Todos lidam com estiletes, tesouras e facas sem qualquer problema”.
A maioria dos detentos que trabalham na oficina é formada por jovens e demonstra criatividade para sugerir novas técnicas. “A gente ensina e, na prática, eles vão aperfeiçoando as técnicas. É sempre uma troca de experiência, na qual ensinamos e aprendemos”, afirma Ana Maria Marquezini. “Esse projeto é uma forma de oferecer um caminho de profissionalização e integração social.”
Em dez anos de atividades, 172 presos passaram pela oficina. Pelo trabalho, cada detento recebe uma pequena ajuda de custo. Mas o mais importante, segundo a secretária da Justiça e da Cidadania do Paraná, Maria Tereza Uille Gomes, é que “eles aprendem uma profissão, sentem-se valorizados e ainda ganham redução de um dia da pena para cada três dias trabalhados”.
Fonte: Agência Estado